“Concedei-nos, Senhor, a SERENIDADE necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar.CORAGEM para modificar aquelas que podemos, e SABEDORIA para distinguir umas das outras.”



  Marcelo Rodrigues Rocha 
SÍNDROME DE BURNOUT

SÍNDROME DE BURNOUT NA REALIDADE ESCOLAR

 

1.INTRODUÇÃO

 

A complexa realidade das escolas de ensino fundamental, no que diz respeito à diversidade sócio cultural dos alunos, baixo envolvimento dos profissionais com o trabalho, a nova organização escolar em ciclos, a proletarização dos professores, entre outros, caracterizam problemas de difícil enfrentamento e superação pela equipe escolar.

As dificuldades dos professores em compreender e resolver problemas relacionados às práticas de ensino tem desencadeado sentimentos de frustração, desânimo, apatia, tensões e desorientações no trabalho. Estes sentimentos denominados pelos estudos da social psicologia de Síndrome de Burnout, que acometem segundo dados estatísticos da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), no ano de 2000, cerca de 48% dos professores brasileiros.

A síndrome de Burnout constitui um tipo de estresse ocupacional que acomete profissionais envolvidos de forma ativa com pessoas, que cuidam e/ou solucionam problemas de outras pessoas, que obedecem a técnicas e métodos mais exigentes, fazendo parte de organizações de trabalho submetidas a avaliações.

A chamada Síndrome de Burnout é definida por alguns autores como uma das conseqüências mais marcantes do estresse profissional, e se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação à quase tudo e todos e usada até como defesa emocional.

 

Breve histórico sobre a síndrome de Burnout

 

           Faz-se necessário, primeiramente explicitar o histórico da Síndrome de Burnout, para posteriormente analisar os seus conceitos e principais aspectos.

           O termo Burnout foi utilizado primeiramente em 1974, por Freudenberger (1991), que o descreve como um sentimento de fracasso e exaustão causado por um excessivo desgaste de energia e recursos. Uma das pioneiras nos estudos empíricos sobre Burnout, o definiu inicialmente como um processo que ocorre pela perda de criatividade e como uma reação de tédio e aborrecimento.

               Os estudos sobre Burnout tiveram início com profissionais de serviços de saúde, constatadas já em alguns estudos; nota-se que juntamente com muitos outros estudiosos da síndrome, que profissionais que mantém contato direto com outras pessoas são os mais afetados pela síndrome, porque possuem um ideal humanista em seu trabalho e se defrontam com um sistema de saúde geralmente desumanizado e excludente, ao qual tem que se adaptar. A origem de “Burnout” se situa no âmbito dos profissionais, cuja ocupação se define por estar centrada em proporcionar serviço a pessoas. Uma revisão bibliográfica permite que nos estudos sobre Burnout tem predominado esta síndrome em profissionais como: médicos, psicanalistas, carcereiros, assistentes sociais, comerciários, professores, atendentes públicos, enfermeiros, funcionários de departamento pessoal, telemarketing e bombeiros, psicólogos escolares, terapeutas, policiais, pessoas do âmbito da justiça etc. (BALLONE, 2002).

            Esta síndrome ocorre sempre quando o lado humano do trabalho esta em desequilíbrio causando problemas para a natureza do trabalho e a natureza da pessoa que o realiza.

O termo Burnout é uma composição de burn=queima e out=exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço. Tal síndrome se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional com predileção para profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas, principalmente quando a atividade é considerada de ajuda. A Síndrome de Burnout é definida como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante com o trabalho. É caracterizada pela ausência de motivação ou desinteresse; mal estar interno ou insatisfação ocupacional que parece prejudicar, em maior ou menor grau, a atuação profissional de alguma categoria ou grupo profissional.(BALLONE, 2002).
          É apresentada como formas de condutas negativas, como por exemplo, a deterioração do rendimento, a perda de responsabilidade, atitudes passivo-agressivas com os outros e perda da motivação, onde se relacionariam tanto fatores internos, na forma de valores individuais e traços de personalidade, como fatores externos, na forma das estruturas organizacionais, ocupacionais e grupais, podemos dizer que é uma resposta ao estresses ocupacionais. A doença atinge principalmente profissionais que são encarregados de cuidar de pessoas e que por isso estão mais propensos a estabelecer vínculos afetivos.(MASLACH e LEITER, 1999).

No caso dos professores, as frustrações permanentes e a pouca valorização faz com que ele fique desmotivado com a rotina da sala de aula. É diferente do stress, que está relacionado a um esgotamento pessoal com diversas causas, não necessariamente relacionado com a profissão.  Dentre os sintomas do Burnout detectam-se a exaustão emocional e o baixo envolvimento no trabalho. Quando isso ocorre, o profissional sofre com a falta de energia e não consegue atingir seus objetivos. Em alguns casos, o professor pode perder também o sentimento de que está lidando com outro ser humano, o que enfraquece a capacidade de se relacionar com os alunos. Um exemplo disso é o professor que, irritado com a turma, termina a aula dizendo que o conteúdo está dado. (MASLACH e LEITER, 1999).

             Do ponto de vista pessoal bem como institucional. É o caso do absenteísmo, da diminuição do nível de satisfação profissional, aumento das condutas de risco, inconstância de empregos e repercussões na esfera familiar.  
Inicialmente, a síndrome foi observada em profissionais que estavam predominantemente em contacto interpessoal mais exigente, como os já mencionados. Atualmente as observações já se estendem a todos profissionais que interagem de forma ativa com pessoas, que cuidam e/ou solucionam problemas de outras pessoas, que obedecem a técnicas e métodos mais exigentes, fazendo parte de organizações de trabalho submetidas a avaliações.(BALLONE,2002).
            Entre os fatores aparentemente associados ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout está, a pouca autonomia no desempenho profissional, problemas de relacionamento com as chefias, problemas de relacionamento com colegas ou clientes, conflito entre trabalho e família, sentimento de desqualificação A Síndrome de Burnout se difere do estresse; envolve atitudes e condutas e a falta cooperação. A Síndrome de Burnout se difere do estresse; envolve atitudes e condutas negativas com relação aos usuários, clientes, organização e trabalho, enquanto o estresse apareceria mais como um esgotamento pessoal com interferência na vida do sujeito e não necessariamente na sua relação com o trabalho. (BORGES, 2002).

3.2 A síndrome de Burnout tem quadro estágios evolutivo de manifestação segundo Cantone (2006).

 

 

Nível 01 - Falta de vontade, ânimo ou prazer de ir trabalhar. Dores nas costas, pescoço e coluna. Diante da pergunta o que você tem? Normalmente a resposta é "não sei, não me sinto bem”.

Nível 02- Começa a deteriorar o relacionamento com outros. Pode haver uma sensação de perseguição ("todos estão contra mim"), aumenta o absenteísmo e a rotatividade de empregos.

Nível 03- Diminuição notável da capacidade ocupacional. Podem começar a aparecer doenças psicossomáticas, tais como alergias, picos de hipertensão, etc. Nesta etapa se começa à auto medicação, que no princípio tem efeito placebo, mas, logo em seguida, requer doses maiores. Neste nível tem se verificado também um aumento da ingestão alcoólica.

Nível 04- Esta etapa se caracteriza por alcoolismo, drogadição, idéias ou tentativas de suicídio, podem surgir doenças mais graves, tais como câncer, acidentes cardiovasculares, etc. Durante esta etapa, ou antes, dela, nos períodos prévios, o ideal e afastar-se do trabalho.(CANTONE, 2006 p 01).

 

 

 

3.3 Síndrome de Burnout costuma obedecer a seguinte sintomatologia, segundo Ballone (2002):

 

Esgotamento emocional, com diminuição e perda de recursos emocionais.

Despersonalização ou desumanização, que consiste no desenvolvimento de atitudes negativas, de insensibilidade ou de cinismo para com outras pessoas no trabalho ou no serviço prestado.

Sintomas físicos de estresse, tais como cansaço e mal estar geral.

Manifestações emocionais do tipo: falta de realização pessoal, tendências a avaliar o próprio trabalho de forma negativa, vivências de insuficiência profissional, sentimentos de vazio, esgotamento, fracasso, impotência, baixa autoestima.

É freqüente irritabilidade, inquietude, dificuldade para a concentração, baixa tolerância à frustração, comportamento paranóides e/ou agressivos para com os clientes, companheiros e para com a própria família.

Manifestações físicas: Como qualquer tipo de estresse, a Síndrome de Burnout pode resultar em Transtornos Psicossomáticos. Estes, normalmente se referem à fadiga crônica, freqüentes dores de cabeça, problemas com o sono, úlceras digestivas, hipertensão arterial.

Manifestações comportamentais: probabilidade de condutas aditivas e evitativas, consumo aumentado de café, álcool, fármacos e drogas ilegais, absenteísmo, baixo rendimento pessoal, distanciamento afetivo dos clientes e companheiros como forma de proteção do ego, aborrecimento constante, atitude cínica, impaciência e irritabilidade.(BALLONE, 2002, p 01).

          A Síndrome de Burnout está sempre relacionada ao trabalho e por isso, no caso do professor, é na escola que ela deve ser resolvida segundo Montero (2003), algumas atitudes, no entanto, podem ajudar a ganhar fôlego para enfrentar as aulas com mais disposição e envolver-se nas atividades com os alunos, entre elas o autor destaca:

·        Aproveitar as férias para colocar em prática alguns bons hábitos e cuidar da sua saúde.

·         Estabelecer metas a curto e longo prazo que sejam realistas. Escreva esses objetivos na agenda e consulte sempre.

·         Adotar hábitos alimentares mais saudáveis e procure fazer exercícios periodicamente.

  • Estabelecer um momento durante o dia para relaxar.

·         Evitar cobrar-se o tempo todo e permita que as coisas aconteçam conforme seu próprio ritmo.

  • Conversar com os amigos e colegas sobre os seus sentimentos. Não guarde apenas para você suas frustrações.

·         Analisar como você ocupa seu tempo.

  • Aprender a dizer não. Assuma apenas a responsabilidade das tarefas que pode cumprir.

·         Aprender a delegar tarefas. Você não é indispensável.

  • Ter senso de humor. Rir de si mesmo e das situações complicadas só faz bem.

Ainda para Montero (2003) uma das principais estratégias é sentir satisfação na atividade que se exerce, acreditar que a missão foi cumprida após a execução de um relatório ou de um projeto. Quem acumula fracassos é um forte candidato a ter Burnout. Atividades paralelas, como praticar esportes e fazer trabalho voluntário, também ajudam. O autor explica que as práticas abaixo auxiliam muito a vida do professor, quando ele propõe os seguintes objetivos:

·        Transformar a escola em um contexto saudável, desenvolvendo as modificações necessárias no âmbito das relações, das condições e da organização do trabalho;

 

·        Propiciar o fortalecimento pessoal e coletivo, desenvolvendo capacidades de lidar com o estresse, valorização pessoal e grupal, controle das situações de conflito, modificando o contexto e canalizando necessidades e aspirações.

 

·        Desenvolver redes de apoio social, formando grupos de discussão entre os colegas, oportunizando reflexões entre líderes institucionais e professores, reunindo alunos e pais para apresentação de trabalhos, experiências, chamando aos pais para trocas sobre modelos educativos e formas de lidar com os alunos, chamando aos alunos para participarem de jornadas, criando fóruns permanentes de diálogo e co-responsabilidade educativa.

 

·        Implementar recursos, pessoais e ambientais, que propiciem melhoria na qualidade de vida dos docentes.

 

           Os autores que estudam a síndrome de Burnout apontam importantes orientações de como prevenir este problema entre profissionais da escola. Estas orientações podem ser utilizadas pela escola para planejar em conjunto medidas de prevenção, no âmbito das relações interpessoais e das práticas pedagógicas.

            Uma das principais estratégias para prevenir a síndrome, é a de enfatizar a promoção dos valores humanos no ambiente de trabalho, e adotar valores mais orientados para a coletividade, em oposição aos valores mais individualistas. Entendemos que para o professor não somente sobreviver no trabalho e sim fazer do trabalho uma fonte de saúde e realização, cabe a ele, mais do que sofrer isoladamente, mas iniciar um processo de mudança pessoal e institucional. Para tanto, é necessário que a escola proporcione propostas construtivas e participativas, ou seja, transformar o ambiente e as relações de trabalhos fechadas e resistentes, e buscar aliados para iniciar um movimento que leve a construção de práticas mais saudáveis no contexto escolar.  

           Para conhecimento aprofundado ou mesmo consultas dos profissionais da escola, disponibilizamos os endereço eletrônicos abaixo, que trazem pesquisas e trabalhos com esta temática, importantes para o conhecimento do assunto ou mesmo para discussões:

 

virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=311&sec=27 - 26k -

www.unimedjf.com.br/noticias_detalhe.aspx?id_conteudo=327&id_area=7&id_categoria=87

http:www.novaescola.abril.com.br/noticia/dez_00_07/index_00_07.htm

https://www.psiqweb.med.br/cursos/stress4.html/02/09/2006

https://www.novaescola.com.br/sindromes/02/09/2006

https://www.psiqweb.med.br/cursos/stress4.htm

 

REFERENCIAS

 NOVA ESCOLA ON-LINE. Se liga, professor. Notícias selecionadas do mundo da

Educação. (Atualização semanal) A Síndrome de Burnout.

 

 

BALLONE, G.J - Síndrome de Burnout - in. PsiqWeb Psiquiatria Geral, Internet, última revisão, 2002 – disponível:https://www.psiqweb.med.br/cursos/stress4.html

 

FREUDENBERG, H.J. Estafa: o alto custo dos empreendimentos. Rio de Janeiro.Francisco Alves. 1991.

MONTERO, M. (2003). Teoria e Prática de Psicologia Comunitária.  Buenos Aires: Piados. 2003.

 

MASLACH, C. LEITER, M.P. Trabalho: fonte de prazer ou desgaste? Guia para vencer o estresse na empresa. São Paulo. Papirus. 1999.

 

BORGES, L.O. A Síndrome de Burnout e valores organizacionais: um estudo comparativo em hospitais universitários. Reflexão e Critica. São Paulo. 2002.

 

 

CANTONE, A.D. A síndrome de Burnout-Parte II/ disponível em : https://www.redepsi.com.br/portal/modules/soapbox/article.php?articleID=53